Há pouco mais de um ano, eu tinha um objetivo muito claro: controlar o mundo ao meu redor. Resolvi soltar a franga quando me dei conta de que meu perfeccionismo (herança de família) beirava a paranóia: separar as roupas por cor jé era exagero.
Quando criança, não entendia como minhas amigas tinham coragem de cortar o cabelo das bonecas. Lembro que quando ganhei a tão sonhada Susi Veterinária (eu achava o máximo o fato de minha mãe ser uma verdadeira Susi veterinária), eu tinha medo de brincar com ela; poderia estragar. Todos os meus brinquedos eram contabilizados e catalogados; desde os gibis da Turma da Mônica até as notinhas de dinheiro do Jogo da Vida. Tenho uma nítida lembrança da cena de caos que se desenrolava diante de meus olhos no colégio: canetas sem tampa, lápis roídos, cadernos rasgados e rabiscados. Quando via algo assim, tinha vontade de abraçar a minha intacta apostila, tão minuciosamente encapada com papel contact.
De repente, me dei conta de que não podia passar a vida inteira brigando com quem colocasse a ponta do papel higiênico voltada para baixo, ou apertasse o meio do tubo da pasta de dente. E organizar os CDs em ordem alfabética e as revistas por número de edição (não necessariamente os meus CDs e as minhas revistas) era bastante trabalhoso.
Acho que foi quando eu comecei a namorar um cara que não tem medo de jogar a toalha molhada no chão (nem mesmo na minha frente) que eu consegui relaxar. Suspirei de alívio quando percebi que podia guardar um CD com o projeto gráfico de cabeça para baixo, ou escrever com canetas de cores diferentes no meu bloquinho. Até colei um adesivo na minha guitarra (na parte de trás, é claro!) Agora, depois de dois semestres de “Melattis” e “Marílias” ditando as “regras” para redigir um perfeito texto jornalístico, estou tetando soltar a franga outra vez. E, apesar de estar adorando escrever frases longas, tem uma coisa que não sai da minha cabeça: meu texto não vai ser revisado.
Carol, este texto quase perfeito prova que, mesmo relaxada, você não abandonou completamente o seu passado perfeccionista. Os pontos e as vírgulas estão nos lugares certos, as palavras foram escolhidas "a dedo" e grafadas corretamente (com exceção do "tetando", que perdeu um N) e as frases têm ritmo e clareza. Mais: usa o dois-pontos à perfeição. É como se continuasse a catalogar, classificar, organizar seus objetos pessoais, só que faz isso naturalmente, sem se dar conta e sem a preocupação com a cobrança externa. Agora você pode até bagunçar sua casa, mas não conseguirá mais bagunçar o seu texto. Poderá escrever libelos contra a opressão em sala de aula, rebelar-se contra o lead, defender a volta da pirâmide a sua posição natural ("de pé" e não invertida), mas fará isso em bom português. E sem passar por qualquer revisor. Relaxará, arriscar-se-á (argh!) em frases longas, mas não perderá o prumo da lucidez. Parabéns.
ResponderExcluirCarol como é gostoso ler um texto assim, parabéns.
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