quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Marcas no tempo


Incrível o poder que o tempo tem. Ele, muitas vezes, dita as regras. Se não, todas as vezes. O tempo habita nossos pensamentos e, com isso, nos faz seguir ou estacionar nele próprio. Pensar no que já foi, naquilo que não volta, é tempo perdido. Imaginar o que será, sonhar com o que pode ser, e por isso não arriscar, é tempo mal-utilizado. Mas, o que digo, nada tem de novo — tratam-se de filosofias temporais muito, muito antigas.

Penso agora em tudo que o tempo faz. Acidentes podem mudar a vida de pessoas em frações de segundos. Nascimentos, mortes, encontros, desencontros... tudo está condicionado ao poder do tempo. Eu mesma posso afirmar como a maior de minhas convicções isso que digo. Estou, há dias, "cavando" idéias em minha mente, procurando algo para escrever, caçando histórias para compartilhar com o caros leitores. E, se agora vos escrevo, agradeçam — ou não — ao tempo.

Essa força invisível me pegou de surpresa, mais uma vez. Podemos levar muito, muito tempo para conquistar algo que desejamos e, quase sempre, se deixamos de ter esse algo, o perdemos em poucos instantes. Palavras ditas de forma incorreta, expressões mal-utilizadas, em um momento errado... são segundos de discussão, segundos em que perdemos o controle, e uma vida inteira de perda. Foi isso que me trouxe aqui, agora.

Refletir o que aconteceu faz com que eu lembre daquelas frases prontas, muito utilizadas pelos meus avós — não deixar para amanhã o que pode ser feito hoje. Tentei, juro que tentei. Mas nem sempre podemos ajeitar as coisas: aqueles poucos segundos que trouxeram a perda marcam mais e se tornam maiores que todo o tempo que os antecederam.

Talvez o que eu tenha dito até agora não lhes acrescentem em nada, como falei, são filosofias antigas e bem conhecidas (o tempo, outra vez) — e vos peço desculpas por isso. Os tempos de lead me engessaram, confesso. Por isso, ando a passos de tartaruga, aguardando novas histórias, aquelas que o tempo me trará e que, com prazer, dividirei com vocês. Não posso me prolongar mais, embora eu adoraria escrever tudo que tenho pensado sobre o que vos falo — o Rei (um tal de Roberto Carlos) me aguarda.

Agora, espero por aquela outra frase pronta, aquela que diz que o tempo cura. Esse mesmo pensamento que me dá a esperança de ter as feridas que abri, cicatrizadas pela força invisível — e inevitável — desse querido e sofrido amigo, o Senhor Tempo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sobre o tédio e as leituras de verão

Se o caro leitor, numa praia durante as férias é igual a esta que vos escreve — que prefere acordar ao meio-dia, passar a tarde enfurnada nos livros e a noite enchendo a cara à acordar às 8h da manhã para um dia na praia, sob o sol, à milanesa, aumentando as chances de um futuro câncer de pele, aí vão 10 maravilhosas dicas de livros para ler com os pés para o ar, sob a brisa de um ventilador:

1. Dona Flor e seus dois maridos - Jorge Amado
Conta a história da mansa dona Flor e de seus dois casamentos: o primeiro com Vadinho, um malandro viciado em jogo e em mulheres, e que a deixou viúva aos 30 anos, e o segundo com doutor Teodoro Madureira, um farmacêutico pacato, fiel e sincero, mas entediante. Perfeito para imaginar que você está na Bahia, cercado de mulatas fogosas e suadas ou homens fortes e altos, e não no quintal de casa, tendo em frente uma piscina de plástico de mil litros.

2. A viagem do elefante - José Saramago
O elefante Salomão, em sua viagem de Lisboa a Viena, dado de presente pelo rei de Portugal ao arquiduque da Áustria (um fato verídico), não fica muito atrás do cão das lágrimas — que agora, com o filme "Ensaio sobre a cegueira" do Fernando Meirelles, espero que todos os caros leitores saibam de quem se trata. Atenção especial à dedicatória do livro que, como sempre, é para Pilar, esposa do autor. Uma simples frase que me arrancou lágrimas (espero que isso não seja sinal de que sou manteiga derretida).

3. O grande mentecapto - Fernando Sabino
Geraldo Viramundo, o personagem principal, é uma espécie de Dom Quixote, mas se restringe a Minas Gerais. Em suas aventuras, é sempre bem-intencionado, puro, ingênuo em sua loucura, submetido às maldades e artimanhas de um mundo que não se resolveu nem se resolverá. Viramundo é cativante — sem mais.

4. Pantaleão e as visitadoras - Mario Vargas Llosa
Pantaleão Pantoja é um oficial do exército peruano que recebe uma importante missão: aplacar os desejos carnais dos soldados peruanos nas matas quentes da Amazônia com um serviço de... visitadoras. Estruturado numa forma divertida, o livro é um dos mais populares e divertidos do autor peruano.

5. Histórias de cronópios e de famas - Julio Cortázar
"Numa aldeia da Escócia vendem-se livros com uma página em branco perdida em algum lugar do volume. Se o leitor desembocar nessa página ao soarem as três da tarde, morre". Instruções para sentir medo, de Cortázar.

6. Lolita - Vladimir Nabokov
De um lado, um homem de meia-idade, obsessivo e cínico. De outro, uma ninfeta de 12 anos, ingenuamente perversa. Um romance irreverente e refinado, que foi transposto para as telas do cinema por ninguém menos que Stanley Kubrick.

7. Do amor e outros demônios - Gabriel García Marquez
Tudo começa em 1949, quando García Marquez, então um jovem jornalista, foi cobrir a remoção das criptas funerárias do convento de Santa Clara, na Colômbia. Um dos caixões abrigava uma ossada com cabelos de aproximadamente 22 metros. Foi a inspiração para o nascimento de Sierva María Todos los Ángeles. Filha de marqueses, é mordida por um cão com raiva. Quando a notícia chega à igreja, o marquês é pressionado a deixar a menina num convento aos cuidados de Deus. Aí aparece o padre Cayetano Delaura. Um amor encurralado pela Santa Inquisição.

8. A hora da estrela - Clarice Lispector
Conta a história da datilógrafa alagoana Macabéa, que migra para o Rio de Janeiro em busca de algo mais. A inútil existência de Macabéa dá o tom de melancolia predominante no livro todo. Narrado pelo fictício Rodrigo S. M., é um livro que me dá uma depressão imensa. Mas eu gosto.

9. O livro dos abraços - Eduardo Galeano
Este livro é um ser aos pedaços: pedaços de ditadura, de infância, de sonhos. Destaque para a história do menino que viu o mar pela primeira vez. Ótimo para ler em frente ao mar.

10. O romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta - Ariano Suassuna
Romance narrado por seu protagonista, Dom Pedro Dinis Ferreira Quaderna, que constrói um monumento literário à cultura caboclo-sertaneja nordestina. Sonha em assumir o trono do Brasil no lugar da casa de Bragança — em sua opinião, uns impostores —, mas é covarde demais para isso. Preso em Taperoá (Paraíba) por subversão, faz a própria defesa perante o corregedor, escrevendo na prisão um livro sobre a história de sua família. Uma confusão dos diabos.