quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Marcas no tempo
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Sobre o tédio e as leituras de verão
1. Dona Flor e seus dois maridos - Jorge Amado
Conta a história da mansa dona Flor e de seus dois casamentos: o primeiro com Vadinho, um malandro viciado em jogo e em mulheres, e que a deixou viúva aos 30 anos, e o segundo com doutor Teodoro Madureira, um farmacêutico pacato, fiel e sincero, mas entediante. Perfeito para imaginar que você está na Bahia, cercado de mulatas fogosas e suadas ou homens fortes e altos, e não no quintal de casa, tendo em frente uma piscina de plástico de mil litros.
2. A viagem do elefante - José Saramago
O elefante Salomão, em sua viagem de Lisboa a Viena, dado de presente pelo rei de Portugal ao arquiduque da Áustria (um fato verídico), não fica muito atrás do cão das lágrimas — que agora, com o filme "Ensaio sobre a cegueira" do Fernando Meirelles, espero que todos os caros leitores saibam de quem se trata. Atenção especial à dedicatória do livro que, como sempre, é para Pilar, esposa do autor. Uma simples frase que me arrancou lágrimas (espero que isso não seja sinal de que sou manteiga derretida).
3. O grande mentecapto - Fernando Sabino
Geraldo Viramundo, o personagem principal, é uma espécie de Dom Quixote, mas se restringe a Minas Gerais. Em suas aventuras, é sempre bem-intencionado, puro, ingênuo em sua loucura, submetido às maldades e artimanhas de um mundo que não se resolveu nem se resolverá. Viramundo é cativante — sem mais.
4. Pantaleão e as visitadoras - Mario Vargas Llosa
Pantaleão Pantoja é um oficial do exército peruano que recebe uma importante missão: aplacar os desejos carnais dos soldados peruanos nas matas quentes da Amazônia com um serviço de... visitadoras. Estruturado numa forma divertida, o livro é um dos mais populares e divertidos do autor peruano.
5. Histórias de cronópios e de famas - Julio Cortázar
"Numa aldeia da Escócia vendem-se livros com uma página em branco perdida em algum lugar do volume. Se o leitor desembocar nessa página ao soarem as três da tarde, morre". Instruções para sentir medo, de Cortázar.
6. Lolita - Vladimir Nabokov
De um lado, um homem de meia-idade, obsessivo e cínico. De outro, uma ninfeta de 12 anos, ingenuamente perversa. Um romance irreverente e refinado, que foi transposto para as telas do cinema por ninguém menos que Stanley Kubrick.
7. Do amor e outros demônios - Gabriel García Marquez
Tudo começa em 1949, quando García Marquez, então um jovem jornalista, foi cobrir a remoção das criptas funerárias do convento de Santa Clara, na Colômbia. Um dos caixões abrigava uma ossada com cabelos de aproximadamente 22 metros. Foi a inspiração para o nascimento de Sierva María Todos los Ángeles. Filha de marqueses, é mordida por um cão com raiva. Quando a notícia chega à igreja, o marquês é pressionado a deixar a menina num convento aos cuidados de Deus. Aí aparece o padre Cayetano Delaura. Um amor encurralado pela Santa Inquisição.
8. A hora da estrela - Clarice Lispector
Conta a história da datilógrafa alagoana Macabéa, que migra para o Rio de Janeiro em busca de algo mais. A inútil existência de Macabéa dá o tom de melancolia predominante no livro todo. Narrado pelo fictício Rodrigo S. M., é um livro que me dá uma depressão imensa. Mas eu gosto.
9. O livro dos abraços - Eduardo Galeano
Este livro é um ser aos pedaços: pedaços de ditadura, de infância, de sonhos. Destaque para a história do menino que viu o mar pela primeira vez. Ótimo para ler em frente ao mar.
10. O romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta - Ariano Suassuna
Romance narrado por seu protagonista, Dom Pedro Dinis Ferreira Quaderna, que constrói um monumento literário à cultura caboclo-sertaneja nordestina. Sonha em assumir o trono do Brasil no lugar da casa de Bragança — em sua opinião, uns impostores —, mas é covarde demais para isso. Preso em Taperoá (Paraíba) por subversão, faz a própria defesa perante o corregedor, escrevendo na prisão um livro sobre a história de sua família. Uma confusão dos diabos.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
O meu desjejum, um descendente do “Bichinho da maçã”
ele sentiu sua casa tremer
logo em seguida ouviu um estalinho e percebeu tudo:
sua maçã e ele acabavam de ser colhidos do pé"
(Ziraldo, no livro O Bichinho da Maçã)
Há muito tempo (faz mais de dez anos) conheci o “Bichinho da Maçã”. Ziraldo narrava, em frases curtas e ilustrações de cores generosas, a história dessa “minhoquinha”. Eu assim a chamava, pois era tão simpática a bichinha. Ela morava dentro do fruto. Por um buraquinho redondo mostrava seu semblante sempre sorridente. A maçã desenhada pelo escritor jamais pareceu podre, tal qual o cereal que comi na manhã de 19 de dezembro de 2008, válido até às 11h59 de 5 de março de 2009.
A larva da história infantil decidiu migrar. “Para que uma maçã se posso conquistar os produtos industrializados, que têm validade prolongada em relação aos da natureza”, ela deve ter se questionado. Logo seus primos, filhos, filhas e outros membros da família resolveram se mudar. Conquistaram barras de chocolates, bombons de marcas sofisticadas, barras de cereais...
O clã do “Bichinho da Maçã” viajou pelos produtos milhares como os piratas descobridores dos sete mares. Um dos decendentes da larva aportou no leite do meu café da manhã. Era uma inquilina do pacote de “Chocolate & Musli”. Sem que nem eu e nem ela quiséssemos, caiu na xícara. Quase a degustei junto aos flocos de arroz e outros grãos crocantes que deixavam a colher rumo a minha boca. Não sei se um de seus parentes se foi nessa jornada de deglutição. Estimo que, se ela tiver deixado descendentes no pacote, eles lá permaneçam, pois jamais tive a intenção de tirá-los do lar.
A larva jaz em um guardanapo branco sem lápide nem epitáfio. O fabricante de sua casa, que atende em um zero oitocentos, ficou muito comovido, tanto que enviará uma caixa do mesmo produto para o meu endereço. Em troca, pede que eu devolva a outra, na qual morava a descendente do “Bichinho da Maçã”. Os restos do cereal matinal que comprei pertencem ao lote nº 06068/1 da marca Trio e serão encaminhados para estudo.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Soltar a Franga
Há pouco mais de um ano, eu tinha um objetivo muito claro: controlar o mundo ao meu redor. Resolvi soltar a franga quando me dei conta de que meu perfeccionismo (herança de família) beirava a paranóia: separar as roupas por cor jé era exagero.
Quando criança, não entendia como minhas amigas tinham coragem de cortar o cabelo das bonecas. Lembro que quando ganhei a tão sonhada Susi Veterinária (eu achava o máximo o fato de minha mãe ser uma verdadeira Susi veterinária), eu tinha medo de brincar com ela; poderia estragar. Todos os meus brinquedos eram contabilizados e catalogados; desde os gibis da Turma da Mônica até as notinhas de dinheiro do Jogo da Vida. Tenho uma nítida lembrança da cena de caos que se desenrolava diante de meus olhos no colégio: canetas sem tampa, lápis roídos, cadernos rasgados e rabiscados. Quando via algo assim, tinha vontade de abraçar a minha intacta apostila, tão minuciosamente encapada com papel contact.
De repente, me dei conta de que não podia passar a vida inteira brigando com quem colocasse a ponta do papel higiênico voltada para baixo, ou apertasse o meio do tubo da pasta de dente. E organizar os CDs em ordem alfabética e as revistas por número de edição (não necessariamente os meus CDs e as minhas revistas) era bastante trabalhoso.
Acho que foi quando eu comecei a namorar um cara que não tem medo de jogar a toalha molhada no chão (nem mesmo na minha frente) que eu consegui relaxar. Suspirei de alívio quando percebi que podia guardar um CD com o projeto gráfico de cabeça para baixo, ou escrever com canetas de cores diferentes no meu bloquinho. Até colei um adesivo na minha guitarra (na parte de trás, é claro!) Agora, depois de dois semestres de “Melattis” e “Marílias” ditando as “regras” para redigir um perfeito texto jornalístico, estou tetando soltar a franga outra vez. E, apesar de estar adorando escrever frases longas, tem uma coisa que não sai da minha cabeça: meu texto não vai ser revisado.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Zeca Baleiro em Joinville
Zeca Baleiro cantou para os fãs de Joinville, na noite de 29 de setembro. Veja o clipe dele cantando "Alma não tem cor".